quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Habemus Papam de Nanni Moretti





O papa de Nanni Moretti precisa ir pra rua.
Quantas vezes não pensamos no quanto a religião ou todo o falatório católico esteve e está distante da vida? O filme de Nanni é sobre este isolamento, alienação e mais que isso: sobre o peso de algo que não interessa a este homem, sobre decidir se voltar para humanidade, no que há de mundano nela, e não para o que a "santidade" poderia lhe oferecer.
Levar seu papa pra rua, depois de adentrar em todo misterioso e cômico ritual católico, é uma proeza que nos traz o Nanni, na comicidade de tudo aquilo, o que temos é uma rara beleza de descoberta da cidade, das pessoas. Trata-se de uma lindíssima recusa de poder, de centro e de escolha pela vida, pelo miúdo dela. Do homem, que apesar da recusa, não se retira de dizer de uma necessidade de mudança, da força que exige essa necessidade de mudança, e como sabemos, ao acompanhá-lo nesta andança pela cidade, como se ela fosse uma coisa toda nova, que o que é preciso é se voltar para o cotidiano, e que a religião, qualquer que seja ela, perceba tudo isto.

domingo, 16 de outubro de 2011

Claire Denis e seu "Bom Trabalho"



E não parou por ali a paixonite pelo cinema de Claire Denis e suas maravilhosas colaborações nestes filmes. Não podia deixar de falar de "Bom Trabalho", dessa livre adaptação de Billy Budd de Herman Melville, uma obra prima sobre corpo, desejo, poder em que Grégoire Colin vem como um Terrence Stamp no "Teorema" de Pasolini para desequilibrar os ânimos do chefe do grupo de homens da Legião Estrangeira, um Denis Lavant soberbo. Mas acima de tudo é um filme sobre dança, ou da dança como recurso para dizer, dizer de uma tensão. Nada como a dança para falar desta tensão dos corpos, do que nisso é desejo, violência, poder, desorientação. E como não falar da cena final - Qual o oposto de morrer? Viver? Não, dançar.